Tourém e o vale do rio Salas |
Tourém
é uma aldeia e freguesia do concelho de Montalegre, na região do
Barroso, em Trás-os-Montes, Portugal. A freguesia, que só na sua
parte meridional não é rodeada pela Galiza, limita com os concelhos
galegos de Moinhos e Calvos de Randim. É a única povoação
portuguesa situada na vertente norte da serra do Gerês, dentro do
Parque Nacional da Peneda-Gerês. O extremo norte da freguesia é o
único território português localizado na margem direita do rio
Salas, estando assim essas terras separadas do resto do país pelas
águas da Barragem de Salas. Sendo apenas acessível através de uma
ponte, esse território é uma espécie de exclave português no
Estado Espanhol, na comunidade autónoma da Galiza.
Mapa de Tourém, com Guntumil e Randim |
Tourém
já existia antes da fundação do Reino de Portugal. No século XII
estava sob a tutela do castelo da Piconha
e pertencia ao seu termo. D. Sancho I atribuiu carta de foral à vila
de Tourém, entre os anos de 1185 e 1211. O foral determinava a
vigilância da fronteira, a partir do castelo da Piconha, e a ligação
de Tourém, através do Caminho Privilegiado (neutral), ao território
do Couto Misto (constituído pela povoações de Santiago de Rubiães, Rubiães dos Mistos e Miãos). No foral de S. Sancho I, em 1187, São Paio de Piconha é
elevada à categoria de vila. Neste período terá sido construído
ou ampliado o castelo da Piconha. Este castelo localizava-se, no
outeiro de Almena, a leste da atual freguesia portuguesa de Tourém,
entre as aldeias de Pena (já desaparecida), Vilar, Vilarinho e
Randim, ou seja no atual
município galego de Calvos de Randim. O castelo da Piconha, com uma
altaneira torre de menagem cujas vistas dominavam toda a parte norte
do vale do rio Salas, era a cabeça do termo ou Terras da Piconha,
defendendo também o Couto Misto. Em 1221, as forças de D. Afonso IX
de Leão atacaram Chaves e arrasaram a Piconha. Em 1325, D. Afonso IV
de Portugal concedeu-lhe privilégios. O castelo foi reconstruído em
1388 por ordem de D. João I. No reinado de D. Manuel I, em 1515, a
Piconha recebeu o Foral Novo.
Detalhe de mapa de Portugal e do Brasil, de Johann Homann, de 1704. Dentro da fronteira portuguesa encontra-se assinalada Apiconha. |
Detalhe de mapa do Reyno de Galicia, de 1784, com a fronteira toda a sul do rio Salas. |
Por
volta de 1650 desapareceu o castelo da Piconha, destruído pelos
castelhanos nas campanhas da Guerra da Restauração da Independência
de Portugal (1640-1668). Tourém torna-se nessa época a sede
administrativa da Honra de Tourém — uma das seis honras do Barroso
(as outras eram Gralhas, Meixedo, Padornelos, Padroso e Vilar de
Perdizes). Então a designação de concelho do Castelo da Piconha
passa a ser concelho da Honra ou Vila de Tourém. Na Guerra
Peninsular as tropas napoleónicas na região destruíram a
documentação sobre as origens e a história do castelo, tal como no
Couto Misto. No outeiro da Piconha subsistem as ruínas dos alicerces
do castelo. São visíveis partes de dois lanços de escadas, assim
como a cisterna escavada na rocha no alto do bloco do morro
granítico.
Em
1836 a reforma administrativa de Passos Manuel extingue o concelho de
Tourém, passando a constituir uma freguesia do concelho de
Montalegre.
Com
a assinatura do Tratado de Lisboa, de 1864, também chamado Tratado
de Limites, entre os reinos de Portugal e Espanha, a zona a leste de
Tourém onde se localizam as ruínas do castelo da Piconha passou para
soberania espanhola, assim como praticamente todo o território do
Couto Misto. Os negociadores portugueses propuseram mas não
conseguiram impor a fronteira pelo rio Salas. Esta solução teria
sido a mais justa, como se verificou com a escolha da nacionalidade
pelos habitantes dos povos promíscuos e do Couto Misto. O termo ou
Terras da Piconha deixou de ser território efetivamente sob
administração portuguesa com a entrada em vigor do Tratado de
Limites em 1866.
Na
administração eclesiástica, Tourém pertenceu até ao princípio
do século XIX à Diocese de Ourense, na Galiza. Muito antes do
foral, em 1065, houve uma escritura de doação de bens ao Mosteiro
de São Salvador de Celanova, na comarca galega da Terra de Celanova.
Hoje em dia a Paróquia de Tourém pertence à Diocese de Vila Real.
Mapa de Tourém, Randim e Couto Misto |
Tourém
dispõe de um Polo do Ecomuseu do Barroso, na antiga Corte do Boi.
Neste polo está apresentado o Couto Misto, a questão do
contrabando, dos exilados políticos e da relação transfronteiriça.
O
Forno do Povo de Tourém é um forno comunitário que foi construído
em 1868, conforme data marcada na pedra da ombreira de um nicho
interior, embora o tipo de arquitetura indique uma construção mais
antiga.
A
Igreja de São Pedro, a matriz de Tourém, é uma igreja de fundação
tardo-medieval, provavelmente do século XIII, mas com trabalhos de
restauro quinhentistas, para além obras de manutenção e restauro
em outras épocas. No foral da Piconha, dado por D. Manuel I em 1515,
é estabelecido o foro a pagar pela igreja de São Pedro de Tourém.
A austeridade decorativa da Igreja de São Pedro, e sua a tipologia,
indiciam uma influência do modelo cisterciense do Mosteiro de Santa
Maria das Júnias, na freguesia vizinha de Pitões das Júnias.
A explicação da Porto Editora para o topónimo Tourém é a seguinte:
Do baixo-latim [Villa] Teodoreti, 'a quinta de Teodoreto'. Tem a variante Tourei e os derivados Tourão, Touroa e Tourões.
Referências
Foto:
Tourém e o vale do rio Salas. Autor: CorreiaPM. Domínio público.
Mapa de Tourém, com Guntumil e Randim: http://sig.cm-montalegre.pt/MunWebGis/Viewer.aspx?serviceName=pdm
Mapa de Tourém, Randim e Couto Misto: http://www.planeamentourbanistico.xunta.es/siotuga/visor.php?hc_location=ufi
Ortografia oficial dos topónimos galegos: Muíños, Calvos de Randín, Couto Mixto, Santiago de Rubiás, Rubiás dos Mixtos, As Maus / Meaus, Picoña, Vilariño, Randín, San Salvador de Celanova.
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