20 March 2015

Gajo

Em Portugal, a palavra gajo é muito usada na linguagem coloquial, nomeadamente a falada, mas não é muito bem vista num registo culto ou mais formal.
No registo coloquial, informal ou jocoso, gajo é qualquer pessoa incerta cujo nome se desconhece ou não se quer mencionar; o mesmo que fulano, tipo, sujeito, indivíduo. Também pode significar namorado (ou namorada, na forma feminina). Entre outros sentidos positivos, gajo é usado em frases como por exemplo "um gajo porreiro".
No sentido pejorativo ou depreciativo, a palavra gajo tem vários significados negativos: sujeito à toa, indivíduo velhaco, de baixa reputação, trapaceiro, astuto, manhoso, pícaro, espertalhão, ordinário, súcio, finório, malandro, de maneiras rudes e abrutalhado.
O uso informal, não ofensivo, ou seja simplesmente um indivíduo, é mais frequente que o uso pejorativo. O masculino – gajo – também é mais usado que o feminino – gaja. A forma feminina tem um sentido mais pejorativo que a forma masculina. Por outras palavras, é geralmente considerado mais ofensivo chamar gaja a uma mulher do que chamar gajo a um homem. No sentido coloquial, não pejorativo, gajo em Portugal é equivalente a cara no Brasil. 
Na gíria cigana do Brasil há também o feminino gajimGajo é ainda uma palavra usada no Brasil num sentido informal ou jocoso para designar os portugueses ou indivíduos originários de Portugal. Gajo ou gajão é uma forma de tratamento respeitosa que os ciganos no Brasil usam para as pessoas que não são ciganas.
Em Portugal, o verbo gajar é um regionalismo que significa fazer barulho. Este verbo intransitivo deriva de gajo.
Gajada, também num registo informal ou coloquial, é uma multidão ou grupo de gajos ou gajas, ou um procedimento próprio de um gajo; o mesmo que malta.
Gajedo é um conjunto de gajas, em linguagem fortemente pejorativa.

A etimologia da palavra gajo é a derivação regressiva de gajão ou ganjão. Gajão tem origem no caló espanhol gachó, do cigano ou romani gadjó, «homem». Na língua dos ciganos ou roma espanhóis gachó é um camponês ou homem adulto; gachó (masculino) e gachí (feminino) referem-se a pessoas que não são ciganas. (O caló espanhol é a linguagem própria dos ciganos espanhóis, ou um calão espanhol constituído por palavras e expressões de origem cigana.)
Na cultura romani (dos ciganos), um gadjo (no feminino gadji) é um indivíduo que não tem romanipen, ou seja não está completamente integrado na cultura, leis e tradições dos roma. Um cigano que não viva dentro da cultura rom também é considerado gadjo, embora mais frequentemente esta palavra se refira a pessoas fora da comunidade e etnia cigana.
A origem da palavra romani gadjo, ou gajo, é desconhecida, mas poderá significar «camponês» ou «homem» e ter a mesma raíz de gav, «aldeia». Outra teoria deriva gajo de Ghazi, um reino na Pérsia e Afeganistão do século XI.
Em escocês, assim como no Ulster e no nordeste da Inglaterra, gadgie ou gadge significa «homem». Na Bulgária гадже (gadje) significa «namorado ou namorada». Em romeno gagic e gagică significam «namorado» e «namorada» e também «rapaz» e «rapariga» («garota, moça», no Brasil).

A palavra gajo não tem relação com gajeiro, o marinheiro da gávea nos veleiros antigos. Gajeiro deriva do italiano gaggia, «gávea».
A palavra gajas (nome feminino plural) com o sentido antiquado de salário ou custo também não tem relação com gajo ou gaja. Tem origem no francês gages «salário».

http://web.archive.org/web/20080514005741/http://www.romani.org/rishi/retygajo.html

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