18 March 2015

Milho

O milho (Zea mays) é uma planta anual, da família das gramíneas (Gramineae ou Poaceae), originária das Américas, extensamente cultivada em muitos países do mundo, com o maior volume de produção entre os cereais. Em Portugal é cultivado principalmente no norte e no centro.
Os grãos do milho desenvolvem-se em grossas espigas. São muito nutritivos e, por isso, abundantemente usados na alimentação humana, tanto os próprios grãos simples com transformados nos mais diversos produtos, incluindo farinha para panificação. O milho é também muito usado nas rações para animais. O colmo e folhas do milho são usados para forragem. Para além da alimentação, o milho é usado na indústria, como por exemplo para a produção de álcool.
A planta do milho apresenta flores de sexos separados, sobre o mesmo indivíduo, sendo assim caracterizada como monoica. As espigas femininas têm longos estigmas, que lembram fios de cabelo, e que são popularmente chamados barbas de milho.
A palavra milho tem origem no latim miliu, cujo nome era dado a plantas diferentes, como o milho-miúdo comum (Panicum miliaceum) e o painço (Setaria italica), também chamado milho-miúdo, milhete, milheto, ou mileto, que já existiam na Europa, Ásia e África. Com a chegada à Europa do “novo milho” (Zea mays), a palavra simples – milho – passou a ser usada para este, enquanto os “velhos milhos”, Setaria italica e Panicum miliaceum, são designados pela palavra composta – milho-miúdo. Portanto, em português não se devem confundir os nomes destas diferentes plantas, milho e milho-miúdo. Noutras línguas é mais explícita a nomenclatura destas plantas. Por exemplo em italiano o milho-miúdo (Panicum miliaceum) tem o antigo nome miglio, enquanto o milho do Novo Mundo (Zea mays) é chamado mais. Em castelhano o primeiro é mijo común e o segundo maíz.
Em castelhano, em Espanha e América Latina, a palavra mais comum para milho (Zea mays) é maíz, com origem no taino mahís, e nesta língua caribenha significa «o que sustenta a vida». A palavra castelhana deu origem a palavras idênticas noutras línguas, como maïs em francês, maize em inglês, majs em dinamarquês e sueco, ou mais em italiano, alemão, neerlandês, norueguês, etc. Nas ilhas Canárias a planta é chamada millo, com origem no português milho; a maçaroca é chamada piña de millo.
Na África austral é usada a palavra mielie, em africânder, e mealie, em inglês, ambas com origem no português milho.
As palavras abati, auati e avati, de origem tupi, são sinónimas de milho, no Brasil.

Outros significados e expressões com a palavra milho ou relacionadas
  • Barba de milho: estigma de milho, usado popularmente como infusão diurética; o mesmo que cabelo de milho.
  • Cabelo de milho: o mesmo que barba de milho.
  • Maís: variedade de milho graúdo; zaburro.
  • Maisal: campo cultivado com maís (variedade de milho).
  • Maisena: farinha fina constituída por amido de milho ou maís. A grafia mais usada em português é maisena; a marca registada que deu origem ao nome comum é Maizena®, do inglês maize.
  • Maizena: o mesmo que maisena.
  • Midje ingron: “milho em grão”; comida cabo-verdiana feita com milho verde (grão de milho não completamente maduro).
  • Milano: o mesmo que milhafre (ave).
  • Milha: alguma coisa de milho (por exemplo farinha, palha).
  • Milhã: nome comum de várias plantas herbáceas, da família das gramíneas, também conhecidas por milheira.
  • Milhaça: farinha de milho.
  • Milhado: animal que adoece por indigestão de milho (Brasil); bêbado (figurado); forte, nutrido (gíria).
  • Milhafo: o mesmo que milhafre.
  • Milhafre: nome comum de várias aves de rapina, da família dos accipitrídeos, também designadas bacalhoeiro, milano, milhano, mioto, minhoto, falcão, gavião, peneireiro, etc.
  • Milhal: terreno cultivado com milho, milheiral.
  • Milhaneiro: que ou aquele que caça milhanos (ave).
  • Milhano: o mesmo que milhafre (ave).
  • Milhano-real: o mesmo que bacalhoeiro (ave); ave de rapina da família dos falconídeos, também designada milhafre (ave).
  • Milhão: milho (regionalismo); milho de cana muito alta e grão muito graúdo (regionalismo).
  • Milheira (ave): o mesmo que serzino; pequeno pássaro cantador, pertencente à família dos fringilídeos, também conhecido por amarelinha, azegrino, milheirinha, cerejinho, cerezinho, cerezina, cerezino, sereno, serino, bico-curto, riscada, milheiriça, chamariz, serezino, etc.
  • Milheira (planta): o mesmo que milhã.
  • Milheira-amarela: o mesmo que verdelhão (ave); pássaro de plumagem verde-amarelada, pertencente à família dos Fringilídeos, muito frequente e, em parte, sedentário em Portugal, também conhecido por amarelão, canário-bravo, emberiza, milheira-amarela, milheirão, mourisco, verderol, verdilhão, verdilhote, verdizel, verdizelo, etc.
  • Milheiral: o mesmo que milhal.
  • Milheirão: nome comum de dois pássaros, da família dos fringilídeos, um também conhecido por verdelhão, mourisco, etc., outro por trigueirão, tem-te-na-raiz, etc.
  • Milheiriça: o mesmo que milheira (ave).
  • Milheirinha: o mesmo que milheira (ave).
  • Milheiró: o mesmo que pintassilgo (Madeira); variedade de uva tinta.
  • Milho barbeito: milho que se semeia para dar aos animais (Galiza).
  • Milho da revoltiça: milho que constitui a colheita de outono; este milho dá-se geralmente ao gado (Galiza).
  • Milho de restevas: milho que se cultiva no mês de junho ou julho (Galiza).
  • Milho de sêmola: o mesmo que Milho-miúdo comum (Galiza).
  • Milho doce: variedade de milho com elevado conteúdo em açúcar.
  • Milho graúdo: milho comum, que tem o grão grosso e grande.
  • Milho transgénico: espécie de milho geneticamente modificada.
  • Milho-alho: o mesmo que milho tunicado; variedade de milho muito apreciado como forragem para bovinos.
  • Milho-alvo: variedade de milho de grão branco.
  • Milho-branco-de-Angola: o mesmo que milhete-branco-do-Egipto.
  • Milho-cozido: árvore leguminosa-mimosácea (Pithecolobium pubescens).
  • Milho-cozido-preto: o mesmo que licânia, género botânico da família Chrysobalanaceae.
  • Milho-da-Guiné: o mesmo que sorgo-cafre.
  • Milho-da-Itália: o mesmo que painço ou milho-painço.
  • Milho-das-vassouras: o mesmo que milho-zaburro; espécie de sorgo (género Sorghum), de cana delgada e alta, com bandeira e sem espiga, e empregada especialmente em vassouras.
  • Milho-de-cobra: planta Araceae (Taccarum weddellianum).
  • Milho-de-cobra: planta balanoforácea (Lophophytum mirabile), também chamada fel-da-terra.
  • Milho-dente: variedade de milho (Zea mays indentata), com grãos que se tornam dentados na maturação.
  • Milho-duro: variedade de milho (Zea mays indurata), que tem grãos duros, córneos, arredondados, ou curtos e chatos, com endosperma mole e amiláceo, encerrado por uma camada dura, externa.
  • Milho-embandeirado: milho que deitou bandeira ou pendão.
  • Milho-miúdo comum: planta da família das gramíneas, com grão farinhento, mas insípido e indigesto (Panicum miliaceum); usa-se para fazer pão, misturando a farinha com a de milho, ou para alimentar aves domésticas.
  • Milho-miúdo: o mesmo que milho-painço, Setaria italica ou Panicum italicum.
  • Milho-molar: variedade de milho branco, macio, e que dá muita farinha.
  • Milho-painço: cereal da família das gramíneas também chamado milho-da-Itália e milho-miúdo.
  • Milho-rei: variedade de milho de grão vermelho.
  • Milhos: prato de Trás-os-Montes feito com milho pouco moído, toucinho, carne e legumes.
  • Milho-sorgo: o mesmo que milho-zaburro.
  • Milhote: o mesmo que milho graúdo ou comum (Galiza).
  • Milho-torrado: planta rosácea (Licania sp.).
  • Milho-tunicado: o mesmo que milho-alho.
  • Milho-verde: espécie de cação (peixe) do Maranhão, Brasil.
  • Milho-zaburro: variedade de milho da Índia, com grão grosso.
  • Milho-zaburro-branco: o mesmo que milhete-branco-do-Egipto.
  • Milho-zaburro-vermelho: o mesmo que sorgo-cafre.
  • Milo: nome comum a algumas variedades de sorgo.
  • Minhoto: o mesmo que milhafre (ave).
  • Mioto: o mesmo que milhafre (ave).

Topónimos derivados de milho (milho-miúdo): Milho, Milho Branco, Milho Verde, Milhaça, Milhaço, Milhaira, Milhais, Milhão, Milhar, Milhara, Milharada, Milharadas, Milharado, Milhares, Milhazes, Milheira, Milheiradas, Milheira, Milheiro, Milhões, Milhorada, Milhorado, Milhoto, Milhundos, Milheiró, Milharó, Milharouco, Milheiroco, Milheirós, Vale de Milhaços.

Provérbios e expressões idiomáticas
  • A chuva em agosto traz milho a rostro. (Galiza)
  • À porta do rezador, não botes o milho ao sol. (Galiza)
  • A maçaroca, no moinho; e no bolso, o dinheirinho. (Galiza)
  • Ano de muita pulga é ano de milho.
  • As escrouchinhas* do milho não fazem proveito a ninguém. Mandei a mulher a elas; adormeceu e não vem. (Galiza)
  • Até a folhinha do milho sabe também picardia. Guarda o orvalho da noite, para beber pelo dia. (Galiza)
  • Boa como o milho. (Expressão que designa uma mulher atrativa; calão.)
  • Com unto e pão de milho, o caldo faz bom trilho.
  • Dinheiro como milho. (Muito dinheiro.)
  • Disse o milho à linhaça: Anda, espevitada, que aos três dias estás nada. E a linhaça respondeu-lhe: talvez como tu, borrão, que tardas sete semanas a saíres do torrão. (Galiza)
  • Disse o milho à terra: decrua-me* tarde, arrenda-me cedo, e pagar-te-ei o que te devo. (Galiza)
  • Em agosto deve o milho ferver no carolo.
  • Em março, abrigo, moças e pão de milho. (Galiza)
  • Em maio, milho semeado, qual enxuto, qual molhado. (Galiza)
  • Em outubro não fies só a lã, recolhe o teu milho e o teu feijão, senão de inverno tens a tua barriga em vão.
  • Junho quente, milho valente. (Galiza)
  • Lavada: aos três dias nada!, disse o milho à linhaça; e ela respondeu: Nugalhão, um mês debaixo do terrão, e ainda se vou ou não! (Galiza)
  • Lá vai, vê-la lá vai, a raposa pelo milho: ela comer não o come, mas o vai destruindo. (Galiza)
  • Milho: dinheiro.
  • Milho ralo na leira e não no carro. (Galiza)
  • Mulher e galinha são bichos interesseiros: galinha por milho, mulher por dinheiro.
  • Nem milho engrolado*, nem milho queimado. (Galiza)
  • O milho mesto*, no cesto; o milho raro, na leira e não no carro. (Galiza)
  • O milho pelo São João deve cobrir um cão.
  • O milho pelo São Marco nem nado, nem no saco.(23 de março.) (Galiza)
  • O milho rascado enche a cesta e o ferrado. (Galiza)
  • O pão de trigo fê-lo Deus, e o de milho mandou fazê-lo. (Galiza)
  • O primeiro milho é dos pardais.
  • O primeiro milho é dos pintos.
  • O primeiro milho é para os pássaros. (Galiza)
  • O temporão, ou em palha ou em grão. (Galiza)
  • Papagaio come milho, periquito leva a fama.
  • Pela palha se conhece a espiga.
  • Pelo São João deve o milho cobrir o chão.
  • Quando o ano entra ao domingo vende os boizinhos e merca milhinho. (Galiza)
  • Quem olha o milho, não bota pintos.
  • Quem o milho-rei encontrar a rapaziada vai beijar.
  • Quem os pássaros receia, milho miúdo não semeia. (Galiza)
  • Quem pássaros receia, milho não semeia.
  • Seja marido e seja grão de milho.
  • Se o milho fosse pouco, mudá-lo-ia dum saco noutro, disse a galinha quando falou. (Galiza)
  • Se queres ter bom milheiro, faz o alqueire em janeiro.
  • Ter milho velho no hórreo.* (Ter ou dispor de algo seguro; Galiza.)
* Palavras nos provérbios galegos
  • Arrendar: dar a segunda sacha ao milho. O mesmo que redrar: cavar de novo, ligeiramente, para tirar a erva.
  • Decruar1. Dar a primeira lavra ou cava à terra para prepará-la para a sementeira. 2. Sachar pela primeira vez o milho, para lhe tirar as ervas daninhas.
  • Escroucha: Parte mais pequena da ponta da cana do milho.
  • Engrolado: o que está a meio de ficar pronto.
  • Hórreo: espigueiro.
  • Mesto: denso.
Imagem de Franz Eugen Köhler, Köhler's Medizinal-Pflanzen; domínio público.

16 March 2015

Primavera

A primavera é a estação do ano entre o inverno e o verão. Astronomicamente, a primavera boreal – no hemisfério norte – decorre aproximadamente entre 20 de março e 21 de junho, ou seja entre o equinócio de março e o solstício de junho. A primavera austral – no hemisfério sul, decorre de 23 de setembro a 21 de dezembro.
Originalmente, o nome desta estação do ano não era primavera. Até ao século XVI, a época do ano que agora denominamos primavera chamava-se verão. O atual verão era denominado estio (do latim aestivu). Esta palavra ainda é usada como sinónimo de verão, assim como o adjetivo estival. Por exemplo em Gil Vicente (séc. XV-XVI) encontramos ainda a palavra verão com o antigo significado de primavera: «a formosura do Verão, o fogo do Estio».

A palavra primavera deriva do latim vulgar prima vera. Em latim clássico, primo vere designava o início do verão, sendo este no sentido latino correspondente à nossa primavera. Por seu lado, a palavra verão tem origem no latim vernum, derivado de vere < veris, relativo ao tempo primaveril, à estação do ano e com o significado que agora atribuímos à palavra primavera. O primo vere, assim, era o “primeiro verão” ou “princípio do verão”, com “verão” no sentido latino e medieval de “estação primaveril”. Mais tarde a palavra primavera passou a designar toda a estação do ano após o inverno e não apenas o seu início, evoluindo a palavra verão para denominar apenas a estação seguinte, o antigo estio.
Em português é habitual o uso das palavras verão e inverno englobando também a primavera e o outono. No caso da primavera/verão a grande frequência da palavra verão, usada após o tempo frio do inverno, está de acordo com a origem daquelas palavras. Noutras línguas, como veremos mais adiante, também há relação entre a primavera, o verão e o início do ano, que era assinalado nesta altura do ano nos calendários antigos.

Com o despertar da natureza após o inverno, a primavera representa também as ideias de renascimento, rejuvenescimento e renovação. A festa da Páscoa está relacionada com a noção de ressurreição primaveril, tanto nas suas raízes pagãs como nas celebrações judaicas (Pessach, em hebraico) e cristãs (Pascha, em latim). A Páscoa no cristianismo ocidental liga-se cronologicamente ao equinócio de março, no hemisfério norte. O Domingo de Páscoa é calculado em função do equinócio primaveril, correspondendo ao domingo seguinte à primeira lua cheia depois do equinócio, o que equivale ao primeiro domingo após o 14º dia do mês lunar judaico de Nissan. Por isso o Domingo de Páscoa só pode ocorrer entre 22 de março e 25 de abril. A Quaresma, cuja palavra é sinónimo de primavera em algumas línguas, é o período de quarenta dias antes da Páscoa.

Outros usos da palavra primavera
  • A palavra primavera é frequentemente usada nos sentidos poéticos ou figurados de juventude (“primavera da vida”), princípio, época primordial, tempo primaveril, ou mesmo para assinalar aniversários.
  • Primavera é o nome comum de diversas plantas, entre as quais algumas das famílias das primuláceas (Primulaceae) e das convolvuláceas (Convolvulaceae). As buganvílias (género Bougainvillea, família Nyctaginaceae) também são chamadas popularmente primaveras, entre outros nomes.
  • Entre as aves passeriformes, a Xolmis cinereus, (da família Tyrannidae) tem o nome comum de primavera.
  • Primavera-de-flores é um antigo tipo de tecido de seda.
  • Segundo o dicionário galego e-Estraviz, “fazer a primavera” significa “ir ao monte cortar tojo quando está em flor para o ter armazenado para o verão”.
  • A Primavera de Praga foi um período de liberalização política na Checoslováquia, em 1968, durante a época dominada pelo partido comunista. As reformas, lideradas pelo eslovaco Alexander Dubček, foram interrompidas pela intervenção da União Soviética e de outros países do Pacto de Varsóvia.
  • A Primavera Marcelista foi o período de liberalização e modernização económica inicial do governo de Marcelo Caetano em Portugal, entre 1968 e 1970, não se vindo a verificar a expetativa de reforma do regime político.
  • A Primavera Árabe é uma a designação dada a um conjunto de diversas manifestações, protestos e revoluções no Médio Oriente e no Norte da África ocorridas desde dezembro de 2010. No decurso da Primavera Árabe já houve revoluções na Tunísia, no Egipto e na Líbia e a guerra civil na Síria, para além de manifestações e protestos em diversos países árabes.

Provérbios sobre a primavera
  • Uma só andorinha não faz a primavera.
  • Por morrer uma andorinha não acaba a primavera.
  • Borboleta branca, primavera franca.
  • Primavera e mocidade passam depressa.

Primavera noutras línguas
Verifica-se que em diversas línguas a palavra primavera engloba a noção de verão, assim como de começo do ano e de renovação. O início do ano ocorria nesta época em calendários antigos.
  • Tal como em português, em castelhano, asturiano, catalão e italiano diz-se primavera. Mas em catalão a primavera também é chamada primavera d'estiu (“primavera do verão”), enquanto o outono (tardor) também é chamado primavera d'hivern (“primavera do inverno”).
  • Em inglês diz-se spring ou springtime, no século XV era springing time, substituindo a palavra Lent ou Lenten (“Quaresma”). A palavra spring também tem o significado de “começar, originar, emergir”.
  • Em alemão diz-se Frühling, mas também Frühjahr ou Lenz. Früh significa “cedo, início, manhã”; Jahr é ano. Lenz está relacionada com o inglês Lent.
  • Em neerlandês diz-se lente ou lentetijd, mas também voorjaar. À semelhança do alemão Frühjahr, e do dinamarquês forår, no neerlandês voorjaar encontra-se a noção de “início” (voor) e de “ano” (jaar).
  • Em francês, printemps tem origem em prins (“primeiro” em francês antigo) e temps (“tempo”), portanto o “primeiro tempo” (do ano).
  • A primavera em basco, udaberri, inclui a palavra uda (“verão”) e berri (“novo”). Por outro lado, o outono é udazken: uda (“verão”) e azken (“fim”).
  • Nas línguas goidélicas a palavra primavera tem origem em *wesraka. Em galélico irlandês e gaélico escocês é earrach; em manês arragh.
  • Em bretão nevezamzer tem origem nas palavras “novo” e “tempo”.
  • Nas línguas bálticas, lituano e letão, primavera diz-se pavasaris, que significa começo do verão. Inclui a palavra vasara (verão), a qual originalmente englobava a primavera e o verão, já que os dois períodos eram considerados uma só estação.
  • O russo e o ucraniano весна (vesna), o bielo-russo вясна (vyasna) e o polaco wiosna terão origem no proto-eslavo *vesna.

Foto: Meadow-springtime (with Caltha palustris, Cardamine pratensis and Prunus spinosa in the background). Location: Münster, North Rhine-Westphalia, Germany. Author: Guido Gerding. This file is licensed under the Creative Commons Attribution-Share Alike 3.0 Unported license.

15 March 2015

Ilhas do Minho

O estuário do Minho, visto da Guarda, Galiza
No troço internacional do rio Minho, em especial no estuário ou esteiro, o aluvião formou várias pequenas ilhas, também chamadas ínsuas, mouchões ou morraceiras. 
Algumas das ilhotas de aluvião formam-se e depois desaparecem, outras constituem ilhotas permanentes. As sedimentações, arrastadas pelas águas do rio, criam bancos de areia, que acabam por formar as ilhotas permanentes, as quais são consolidadas pela vegetação que as colonizam. 
A sedimentação é devida às alterações naturais no curso do rio, sazonais ou outras, e também por interferência humana na bacia hidrográfica. Pela sua natureza, o processo de formação das ilhotas aluviais é muito dinânico. Por exemplo a Morraceira de Seixas começou a formar-se no início da década de 1980. Em outros casos houve ilhas maiores que posteriormente se subdividiram, como o grupo insular do Verdoejo, que no século XVIII era uma única ilha. 
A demarcação da fronteira internacional foi controversa, dada a instabilidade geológica das ilhas de aluvião, as alterações sazonais ou a indefinição do talvegue do rio. As tradições locais relacionadas com o uso comum das ilhas por galegos e portugueses, além de desavenças sobre esse uso, originou também conflitos na demarcação da linha fronteiriça entre os dois estados..
O "Tratado de Limites entre Portugal e Hespanha", de 1864, determinou o seguinte:
«A linha de separação entre a soberania do reino de Portugal e a do reino de Hespanha, começará na foz do rio Minho, entre o districto portuguez de Vianna do Castelo, e a provincia hespanhola de Pontevedra, e se dirigirá pela principal veia fluida do dito rio até á confluencia do rio Barjas ou Trancoso. A ilha Canosa situada perto da foz do Minho, a denominada Cancella, a Insua Grande, que se encontra no grupo das ilhas do Verdoejo, entre o povo portuguez d’este mesmo nome e o povo hespanhol Caldelas, e o ilhote Filha Boa, situado perto de Salvatierra, pertencerão a Hespanha. As ilhas chamadas Canguedo e Ranha Gallega, que formam parte do mesmo grupo de Verdoejo, pertencerão a Portugal.» (Texto original, ortografia da época.)
Hoje em dia, segundo as informações da Capitania do Porto de Caminha, há 14 ilhas no troço internacional do rio Minho. Quatro são consideradas internacionais, não sendo reclamadas em exclusivo por nenhum dos países; as outras 10 estão distribuídas pelos dois países.
As ilhas internacionais não disputadas são as seguintes: Morraceira, Morraceira de Seixas (ilha Maurício), Morraceira de João de Sá e Varandas (Canosa de Arriba). A primeira está mais próxima da margem galega. As outras três estão mais perto da freguesia de Lanhelas, no concelho de Caminha, Portugal.
As cinco ilhas atribuídas a Portugal são: ilha dos Amores, Boega, Lenta, São Pedro e Conguedo. As três primeiras pertencem ao concelho Vila Nova de Cerveira; as outras duas situam-se no concelho de Valença.
As cinco ilhas de soberania espanhola, na Galiza, são: Canosa, Morraceira do Grilo (ou Vimbres), Morraceira das Varandas, Vacariça (Vacariza) e Filha Boa (Fillaboa).
As ilhas do Minho internacional constituem áreas de interesse ecológico, estando a caça e a pesca na zona regulamentada por Portugal e Espanha. O bom uso das ilhas internacionais do rio Minho também está regulamentado por Portugal e Espanha, sendo a sua fiscalização competência da Capitania do Porto de Caminha (da Autoridade Marítima portuguesa) e da Comandancia Naval del Miño (da Armada Espanhola, em Tui, Galiza).
Na ilha de Filha Boa (Fillaboa), declarada Sítio de Importância Comunitária, adquirida a um particular pelo concelho galego de Salvaterra do Minho, foi criado um centro de interpretação da natureza, embora se encontre degradado. As ilhas do Minho que pertencem a Portugal estão devolutas, não tendo atividades regulares.
Ilhas da Boega e dos Amores
O rio Minho em Vila Nova da Cerveira
O rio Minho na zona do Verdoejo
A Ínsua de Santo Isidro, uma ilhota granítica mais conhecida por Ínsua, ao sul da foz do rio Minho, junto à praia de Moledo, no concelho de Caminha, não tem relação geológica com as ilhas de aluvião no estuário do mesmo rio. Nesta ilhota situa-se o Forte da Ínsua, que é uma fortificação setecentista marítima abaluartada, classificada como Monumento Nacional.
Imagens:
Referências na internet:

10 March 2015

Portugal, laranja e outras palavras

É muito frequente a interligação entre topónimos e nomes de plantas, animais ou produtos, podendo alguns casos serem coincidências. Entre muitos outros, temos os seguintes exemplos:
- China. Em inglês é o nome do país e designa também a porcelana. Em castelhano significa laranja em alguns países da América Latina. Em holandês sinaasappel significa originalmente "maçã da China", tal como noutras línguas, nomeadamente as nórdicas.
- Peru. Em português é um país sul-americano e uma ave.
- Turkey. Em inglês é o nome da Turquia e da ave chamada peru em português.
- Caxemira. Em português é o nome de um país ou região da Ásia e também de um tipo de de cabra. Em inglês a lã é cashmere, sendo esta palavra uma ortografia antiga da região agora denominada Kashmir.
- Camarões. Em português é o nome de um rio e país e o nome de crustáceos da ordem dos decápodes.
- Musselina. Tecido muito leve, cujo nome pode ter origem na cidade iraquiana de Mossul, onde era comercializado, ou na cidade indiana de Machilipatnam, Masulipatnam ou Masulipatão, conhecida em tempos antigos como Masalia ou Maisolos.
- Cambraia. Tecido muito fino, de algodão ou linho, que tem a sua origem na cidade de Cambrai no norte da França.
- Marroquinaria (em francês maroquinerie) e marroquim. São palavras referentes a artigos de couro ou a pele curtida de cabra. Os nomes derivam de Marrocos.
- Fez. Tipo de chapéu de feltro e também o nome de uma das mais importantes cidades marroquinas. O fez foi muito usado na Turquia. O seu nome em turco é fas, que coincide com o nome de Marrocos em turco.
- Bergamota. Fruto cítrico, da Citrus bergamia, cujo nome tem origem na cidade italiana de Bergamo, na Lombardia.
- Tangerina. Fruto cítrico, da Citrus tangerina, cujo nome tem origem na cidade marroquina de Tânger.
- Mandarina. Fruto cítrico, da Citrus reticulata, com origem na China e Vietname. Mandarim é também um importante conjunto de línguas chinesas, habitualmente referido como chinês-padrão ou língua oficial da China. Para designar essa língua, a mesma palavra em inglês (Mandarin), e outras línguas, deriva do português mandarim.

Com estes últimos exemplos passamos ao caso da laranja e da sua relação com Portugal em algumas línguas, principalmente da Europa e do Médio Oriente. A laranja é o fruto da espécie cítrica Citrus sinensis, da família das rutáceas (Rutaceae). A laranja é originária da Ásia, criada na antiguidade através do cruzamento do pomelo (Citrus maxima) com a tangerina (Citrus tangerina).
A palavra laranja tem origem no sânscrito naranga, chegando a nós através do persa narang ou narensh e do árabe naranja. A palavra em sânscrito pode ter tido origem numa língua dravídica, como o tâmil, em que narandam é a laranja-amarga ou laranja-azeda (Citrus aurantium) e nagarukam é a laranja doce (Citrus sinensis), enquanto nari ou naru significa fragância. Em castelhano a palavra manteve-se semelhante ao árabe naranja. Em francês, passando também ao inglês, alterou-se para orange. Em português transformou-se em laranja.
Os mercadores portugueses trouxeram a laranja doce do Oriente e introduziram-na no Médio Oriente e na Europa, onde só a laranja-amarga era conhecida. Por isso, em várias línguas a palavra laranja significa "português" ou tem relação com Portugal. Alguns casos:
- Albanês: portokalli.
- Amárico: ብርቱካን (birtukan).
- Árabe: البرتقال (bourtouqal).
- Azeri: portağal.
- Búlgaro e macedónio: портокал (portokal).
- Parmesão (emiliano-romanhol): partugal.
- Georgiano: ფორთოხალი (p'ort'oxali).
- Grego: πορτοκαλιά (portokali).
- Ladino: portokal.
- Lombardo: pertügal, portügal, portogàl.
- Napolitano: purtuallo.
- Persa moderno: پرتقال (porteghal).
- Piemontês: përtugal.
- Romeno: portocal.
- Turco: portakal.

Foto: laranjas do Algarve; de Brunoavestruz, domínio público.

09 March 2015

Corunha

A Corunha é uma das principais cidades da Galiza, do ponto de vista histórico, económico, institucional e cultural. É a segunda em população, depois de Vigo. É também a capital da comarca e da província com o mesmo nome, no noroeste da Galiza e da Península Ibérica. Foi ainda a capital galega entre 1563 e 1981.

Desde o estabelecimento da comunidade autónoma da Galiza, em 1978, houve um reconhecimento oficial dos topónimos galegos. O Parlamento Galego, através da Lei de Normalização Linguística, de 1983, determinou que "os topónimos da Galiza terão como única forma oficial a galega". Apesar disso, a administração municipal da Corunha, concelho onde uso do galego está abaixo da média da Galiza, opôs-se à oficialidade da forma galega, querendo manter a castelhana La Coruña ou a cooficialidade de A Coruña e La Coruña. Após anos de batalhas judiciais, em 2008 a administração do concelho abdica do uso do topónimo em castelhano e aceita finalmente a lei que estabelece a forma galega como única oficial.
Assim, a única ortografia oficial do nome, em conformidade com a opção da Real Academia Galega, é agora A Coruña, tanto na Galiza como no seu uso por outras entidades dentro do Estado Espanhol, seja qual for a língua usada. No entanto, os reintegracionistas galegos, entre outros, preferem Corunha, A Corunha, ou Crunha.

A origem do nome da Corunha é discutida, mas é aceite que provem de Crunha (ou Cruña, na grafia castelhanizada), sendo esta originada na forma pré-romana Clunia. No século XII aparece documentada a forma Crunia, que teve também registadas as variantes Crunnia e Crunna. Por epêntese a forma Crunha tornou-se a mais habitual Corunha, à qual foi acrescentado o artigo que ainda se mantém na forma oficial (A Coruña).
O problema maior reside na origem de Crunha ou Clunia. Uma das explicações é a raíz indoeuropeia *k-r, cor ou car ("pedra", "rocha"). Outra hipótese é *clunia ("prado", "lugar húmido", "fonte"), à semelhança de Cluny em França. Há também a explicação que Crunha tem origem no gaélico (portanto celta) Cork Orunnach, com o significado de "Porto dos homens bravos". Outros relacionam o nome com corono ou o deus Cronos. Há ainda a hipótese celta de kerne ("corno" geográfico), à semelhança da Cornualha (Kernow na língua córnica).
Segundo Geoffrey Keating, A Crunha tem origem no gaélico irlandés Cruinne / A' Chruinne. (Ver em A' Chruinne - A Cruña.)
Entre as etimologias populares encontram-se "coluna" (em referência à Torre de Hércules) e "coroa" ou o latim "corona" (no sentido de local alto).

Outras línguas têm as seguintes formas para o nome da Corunha:
- inglês: Corunna, La Corunna, La Coruña, A Coruña; antigamente também The Groyne.
- francês: La Corogne.
- catalão: La Corunya.
- gaélico (irlandês): Cathair na Cruinne.
- gaélico (escocês): Corùna.
- letão: Akoruņa ou Lakorunja.
- lituano: La Korunja.
- occitano: La Coronha.
- russo: Ла-Корунья ou А-Корунья.

Eventualmente sem qualquer relação com a cidade da Corunha, a palavra corunha também significa caroço em galego-português. Coronha, também sem relação, é uma parte das armas de fogo.

Na foto, de 1988, uma placa em Pontedeume, com o nome da Corunha corrigido de castelhano para galego-português. Local.: http://goo.gl/maps/sEGDP. Foto: ©1988 Francisco Santos.

http://consellodacultura.gal/mediateca/extras/coruna.pdf
http://ruc.udc.es/dspace/bitstream/2183/8794/1/CC81art21.pdf

05 March 2015

Nome da Galiza

A Galiza é uma nação no noroeste da Península Ibérica, constituindo administrativamente desde 1978 uma comunidade autónoma do Reino de Espanha, reconhecida como nacionalidade histórica pelo seu estatuto de autonomia. A comunidade autónoma galega localiza-se em parte do território da antiga província romana da Galécia e do posterior Reino da Galiza (409-1833, de jure).

O nome da Galiza, ou Galícia, deriva do latim Callaecia ou Gallaecia (Galécia em português), que foi o nome dado pelos romanos ao território dos povos gallaeci / callaeci (em latim), ou καλλαικoι (kallaikói, em grego) – galaicos em português. Estes terão sido um conjunto de tribos ou povos de cultura castreja e raiz céltica. O território dessas tribos galaicas abrangia todo o noroeste e grande parte do norte da Península Ibérica, em extensão variável, correspondente ao norte de Portugal, Galiza, Astúrias, Cantábria e Leão.

Têm sido apresentadas diversas hipóteses para a etimologia da Galiza e dos antigos povos galaicos (gallaeci, kallaikói). Algumas suposições combinam a mesma origem para este nome e para o da segunda parte de Portugal (de Portus Cale), identificando a raíz gal / cal / kal em ambos os casos. Entre as várias hipóteses podemos encontrar as seguintes:

- do nome da deusa celta Cailleach, adorada pelos callaeci;
- do grego καλλισ (kallis), “belo”; ou γάλα (gala), “leite” ou “brancura”;
- do latim cale, "quente"; ou callus, “calo”; ou collis, “colina”;
- de cala (enseada estreita entre rochedos; curso de água), de origem celta ou anterior;
- de Galli ou Gallus;
- de Γαλάτεια (Galateia), da mitologia grega.
- dos galli, galeses ou galos célticos, que se teriam estabelecido na zona do Porto;
- da raiz indo-europeia g(h)al, “poder, força; dureza, calo”;
- da raiz pré-indo-europeia kara / kala, “rocha”.

Seja qual for a origem do nome da Galiza e dos galaicos, a palavra hoje usada evoluiu em latim de Callaecia para Gallaecia (Galécia) e Gallicia. Os geógrafos e historiadores árabes medievais chamaram à Galiza, englobando os reinos cristãos do noroeste ibérico, os nomes de Ŷillīquiya (derivado de Gallaecia) e Galīsiya (derivado de Galízia), sendo a última forma mais usada para a zona específica da Galiza e norte Portugal.

Em galego-português surgiram as formas Galízia, Galiza e Galícia. No período medieval do Reino da Galiza, a forma mais usada era Galiza, como ainda é em português. A partir do século XV, sob domínio de Castela, passou a ser mais frequente a escrita da forma Galicia, coincidente com o nome em castelhano. Nos séculos XIX e XX, com o Ressurgimento / Rexurdimento, voltou a ser usada a forma histórica Galiza.

Hoje em dia, conforme o estatuto de autonomia da Galiza, que reconhece o galego como língua própria do país, assim como o castelhano, o nome oficial da comunidade autónoma é Galicia. No entanto, o termo Galiza é igualmente aceite e legítimo segundo as oficiais Normas Ortográficas e Morfolóxicas do Idioma Galego, da Real Academia Galega, do ano de 2003. Por outro lado, as entidades e indivíduos pertencentes à corrente reintegracionista galega, que considera o galego e o português como pertencentes ao mesmo diassistema linguístico, usam exclusivamente a forma histórica galego-portuguesa Galiza.

No Brasil alguns indivíduos, e inclusive obras de referência, usam o termo Galícia, ou em simultâneo Galiza e Galícia. Este terá entrado nos hábitos linguísticos brasileiros por influência castelhana ou devido à imigração galega no Brasil. O termo Galícia é considerado barbarismo ou estrangeirismo por alguns autores.

  • Galiza irredenta, Galiza estremeira, Faixa oriental, Franxa Leste, Galiza exterior, são nomes, entre outros, dados aos territórios de língua e cultura galega localizados fora da atual comunidade autónoma da Galiza, nas comunidades das Astúrias e de Castela e Leão. Estes territórios ou comarcas são tradicionalmente os de Eo-Navia, Bierzo e Portelas / Seabra.
  • Nova Galiza, em castelhano Nueva Galicia ou Nuevo Reino de Galicia, foi um território do Vice-Reino da Nova Espanha, no México colonial.
  • Nova Galiza (Nueva Galicia) foi também outrora o nome do arquipélago de Chiloé, no sul do Chile.
  • A Primeira República Galega foi um episódio efémero no dia 27 de junho de 1931, antes das eleições às Cortes Constituintes da II República Espanhola.
  • O Dia Nacional da Galiza, também chamado Dia da Galiza, Dia da Pátria ou Dia da Pátria Galega, celebra-se a 25 de julho – dia de Santiago Maior.
  • O Dia das Letras Galegas celebra-se a 17 de maio, desde 1963. Todos os anos é homenageada uma figura significativa da literatura galega.
  • Em Portugal existem vários topónimos que incluem a palavra Galega(s) ou Galego(s). O anterior nome da cidade do Montijo, na margem esquerda do estuário do Tejo, era Aldeia Galega do Ribatejo. No concelho de Cascais há uma povoação chamada Galiza.
  • Galega é um género botânico pertencente à família Fabaceae. Inclui a arruda-caprária ou galega (Galega officinalis).
  • Em algumas línguas, inclusive castelhano, inglês e formas de galego-português, o topónimo ibérico Galicia é igual ao da região histórica da Galícia, entre a Polónia e a Ucrânia. O nome da Galícia centro-europeia escreve-se Galicja em polaco, Галичина (Halychyna) em ucraniano e ruteno, Galizien em alemão, entre outras línguas dos povos da região.

Na imagem superior, quatro bandeiras galegas: a bandeira oficial institucional da comunidade autónoma, a bandeira civil da comunidade autónoma, a bandeira com o escudo de Castelao, a bandeira nacionalista de esquerda.

Na foto inferior, uma placa (que antes tinha a palavra Espanha) em Paradamonte, concelho de Ponte da Barca, província do Minho, Portugal. Foto: ©200Francisco Santos. Local.: http://goo.gl/maps/NKm1g

02 March 2015

Março

Março em
Les très riches heures du duc de Berry
Março era o primeiro mês do ano no antigo calendário romano. O seu nome em latim é Martius, derivado de Mars (Marte), o deus romano da guerra e guardião da agricultura, equivalente ao grego Ἄρης (Ares). Os romanos consideravam-se descentes deste deus, porque Rómulo e Remo, fundadores de Roma, eram filhos de Marte e de Reia Sílvia.
O início do ano em março estava em harmonia com a chegada da primavera no hemisfério norte, originando o renascimento da natureza e favorecendo as atividades agrícolas. O mês do deus da guerra, com o começo do bom tempo primaveril, era também a ocasião propícia ao início das campanhas militares.
O equinócio da primavera ocorre à volta de 20 de março. Alguns dos antigos festejos associados ao equinócio foram transferidos para a celebração da Páscoa cristã, a qual por vezes também ocorre em março.

Março noutras línguas
  • Březen, em checo, com origem em bříza, “bétula”.
  • Hyld-monath, para os antigos anglos.
  • Kovas, em lituano.
  • Lentmonat, em saxão antigo, associado ao crescimento dos dias no equinócio e à Lent, “primavera”. Também Rhed-monat, ou Hreth-monath, com origem na deusa Rhedam ou Hreth.
  • Maaliskuu, em finlandês, com origem em maallinen kuu, o “mês terrestre”, quando a neve derrete e deixa ver o solo.
  • Ožujak, em croata.
  • Sušec, em esloveno. O mês em que a terra fica seca e pode ser cultivada.
  • Березень (berezenʹ), em ucraniano, com origem em береза (bereza), “bétula”.
  • Сакавік (sakavik), em bielorrusso.
  • אדר (Adar) é o último mês do calendário hebraico e corresponde ao fim de fevereiro e à maior parte do mês de março no calendário gregoriano.


Provérbios de março
  • A água de março é pior do que nódoa no fato.
  • A água de março é pior que nódoa no pano.
  • A dezanove de março, e o cuco sem vir, ou ele é morto ou está para vir.
  • A geada de março tira o pão do baraço e a de abril nem ao baraço o deixa ir.
  • A invernia de março e a seca de abril põe o lavrador a pedir.
  • A vinte e dois de março ouga o pão com o mato, a noite com o dia, a erva com o sargaço, a fome com a barriga e a merenda do pastor nunca chega ao meio-dia.
  • Água de março é pior que nódoa no pano.
  • Água de março pior é que nódoa no fato.
  • Água de março, no princípio ou no cabo, só que molhe o rabo do gato.
  • Água de março, pior é que nódoa no pano.
  • Água de março, quanta o gato molhe o rabo.
  • Aí vem meu irmão março, que fará o que eu não faço.
  • Antes a estopa de abril, que o linho de março.
  • Bodas em março, é ser madraço.
  • Cavas em março e arrenda pelo São João (24/6), todos o sabem, mas poucos as dão.
  • Covas em março e arrendas pelo São João; todos o sabem, mas poucos as dão.
  • Dia de março, dia de três ventos.
  • Em março chove cada dia um pedaço.
  • Em março espetam-se as rocas e sacham-se as hortas.
  • Em março espiam-se as rocas e sacham-se as hortas.
  • Em março nem rabo de gato molhado.
  • Em março o pão com o mato, a noite com o dia e o Pedro com a Maria.
  • Em março o sol rega e a chuva queima.
  • Em março ouga a erva com o sargaço.
  • Em março ouga a noite com o dia e o pão com o sargaço.
  • Em março queima a velha o maço para aguentar o pernaço.
  • Em março queima a velha o maço.
  • Em março, a três e a quatro.
  • Em março, aquece cada dia um pedaço.
  • Em março, cresce cada dia um pedaço.
  • Em março, de manhã pinga a telha e à tarde sai a abelha.
  • Em março, deita-te um pedaço.
  • Em março, esperam-se as rocas e sacham-se as hortas.
  • Em março, igual o trigo com o mato e a noite com o dia.
  • Em março, liga a noite com o dia e a noite com o sargaço.
  • Em março, merenda o pedaço; em abril merenda o merendil.
  • Em março, merendica e folgaço.
  • Em março, nem migas, nem couves, nem esparto.
  • Em março, nem rabo-de-gato molhado.
  • Em março, o pão com o mato, a noite com o dia e o Pedro com a Maria.
  • Em março, o que dormes, o que eu faço.
  • Em março, o sol rega e a água queima.
  • Em março, onde quero eu passo.
  • Em março, queima a velha o maço.
  • Em março, rebenta a erva nem que lhe dês com um maço.
  • Em março, tanto durmo como faço.
  • Em tardes de março, recolhe teu gado.
  • Em vinte cinco de março, se o cuco não se ouvir, ou é morto ou não quer vir.
  • Entre março e abril o cuco há-de ouvir.
  • Entre março e abril o cuco há-de vir.
  • Entre março e abril, há-de o cuco vir.
  • Enxame de março apanha-o no regaço.
  • Inverno de março e seca de abril, deixam o lavrador a pedir.
  • Janeiro geoso, fevereiro nevoso, março mulinhoso, abril chuvoso, maio ventoso, fazem o ano formoso.
  • Janeiro geoso, fevereiro nevado, março frio e ventoso, abril chuvoso e maio pardo, fazem o ano abundoso.
  • Lá vem o irmão março, que não deixará ovelha, nem farrapo, nem o pastor se for fraco.
  • Lua cheia em março trovejada, trinta dias é molhada.
  • Março amoroso faz o ano formoso.
  • Março amoroso, abril chuvoso, maio ventoso, São João calmoso, fazem o ano formoso.
  • Março amoroso, abril ventoso, maio remeloso, fazem o ano formoso.
  • Março baço, a noite com o dia, o pão com o sargaço.
  • Março chove cada dia o seu pedaço.
  • Março chuvento, ano lagarento.
  • Março chuvoso, São João farinhoso.
  • Março de ano bissexto, muita fome e muito mortaço.
  • Março duvidoso, São João farinhoso.
  • Março frio ou molhado, enche o celeiro e farta o gado.
  • Março leva a ovelha e o farrapo e o pastor se ele é fraco; o cão escapará ou não.
  • Março liga a noite com o dia, o Manel com a Maria, o pão com o mato e a erva com o sargaço.
  • Março mal quando molha o rabo ao gato, se de fevereiro ficou farto.
  • Março marçagão de manhã cara de cão, ao meio-dia de rainha e à noite de fuinha.
  • Março marçagão, cura meadas, esteiras não.
  • Março marçagão, de manhã cara de anjo, à noite cara de ladrão.
  • Março marçagão, de manhã cara de cão, à tarde cara de rainha, e à noite cava com a foucinha.
  • Março marçagão, de manhã cara de cão, ao meio-dia cara de rainha e à noite corta com a foicinha.
  • Março marçagão, de manhã cara de carvão, à tarde sol de verão.
  • Março marçagão, de manhã chove, de tarde está bom.
  • Março marçagão, de manhã focinho de cão, ao meio-dia de rainha e à noite de fuinha.
  • Março marçagão, manhã de inverno, tarde de verão.
  • Março marçagão, pela manhã rosto de cão, à tarde verão.
  • Março marçagão, tarde de verão.
  • Março marçagão: de manhã cara de cão, ao meio dia de rainha e à noite de fuinha.
  • Março marceja, pela manhã chove a à tarde calmeja.
  • Março marcheia, de manha arreganha o pastor, à tarde desenxameia a colmeia.
  • Março molinhoso, São João farinhoso.
  • Março o cria, março o fia.
  • Março pardo e venturoso traz o ano formoso.
  • Março pardo, antes enxuto que molhado.
  • Março pelarço as noites como os dias, os meses como os marcos.
  • Março queima a dama do paço.
  • Março ventoso e abril chuvoso, do bom colmeal farão astroso.
  • Março ventoso, abril chuvoso, de bom comeal farão desastroso.
  • Março virado de rabo é pior que o diabo.
  • Março zangado é pior que o diabo.
  • Março, aguaço.
  • Março, encanar.
  • Março, marçagão, de manhã cara de rainha, de tarde corta com a foucinha.
  • Março, marçagão, de manhã inverno, de tarde verão.
  • Março, marçagão, manhã de inverno, tarde de rainha, noite corta que nem foucinha.
  • Março, marçagão, manhã de inverno, tarde de verão.
  • Março, marçagão, manhãs de inverno e tardes de verão.
  • Março, nem quanto molhe o rabo ao gato; em abril, quantas (águas) puderem vir.
  • Março, tanto durmo como faço.
  • Nasce a erva em março, ainda que lhe dêem com um maço.
  • No dia vinte e cinco de março vêm as merendas, abalam os serões.
  • No tempo do cuco, tanto está molhado como enxuto.
  • O enxame de março mete-o no regaço.
  • O grão em março, nem em casa nem no saco.
  • O grão, em março, nem na terra nem no saco.
  • O sol de março queima a menina no palácio
  • Páscoa em março, ou fome ou mortaço.
  • Poda em março, vindima no regaço. 
  • Poda-me em janeiro, empa-me em março e verás o que te faço.
  • Podar em março é ser madraço.
  • Podar em março ou no folhato.
  • Pouca água em março, pouco bagaço.
  • Quando em março arrulha a perdiz, ano feliz.
  • Quando o março sai ventoso, sai o abril chuvoso.
  • Quando o março sai ventoso, sai o inverno chuvoso.
  • Quando outubro for erveiro, guarda para março o palheiro.
  • Quando troveja em março, aparelha os cubos e o baraço.
  • Quando troveja em março, aparelha os cubos e o braço.
  • Quando troveja em março, aparelha os cubos e o sargaço.
  • Quando troveja em março, semeia no alto e no baixo.
  • Quando vem março ventoso, abril sai chuvoso.
  • Quanto vale o carro e o carril? Tanto como a chuva entre março e abril.
  • Quem em março assoreou, tarde acordou, mas quem a sua maçaroca fiou, com ela se achou.
  • Quem em março come sardinha, em agosto lhe pica a espinha.
  • Quem em março não merenda, aos mortos se encomenda.
  • Quem em março relva, não tem pão nem erva.
  • Quem em março seroou, tarde ou mal acordou.
  • Quem em março vê uma farroba, em abril vê mais de mil.
  • Quem poda em março, é madraço.
  • Quem poda em março, vindima no regaço.
  • Quem tenha força no braço, que cave e pode em março.
  • Queres bom cabaço, semeia-o em março.
  • Sáveis por São Marcos, enchem-se os barcos.
  • Se em março a videira não chora, choras tu.
  • Se entre março e abril o cuco não vier, o fim do mundo está para vir.
  • Se não chover entre março e abril, venderá El-rei o carro e o carril.
  • Se o cuco não vem entre março e abril, ou é morto ou está para vir.
  • Se o vires em março, apanha-o no regaço; se o vires em abril, deixa-o ir; se o vires em maio, agarrai-o; se o vires em junho, nem que seja como um punho.
  • Se ouvires trovejar em março, semeia no alto e no baixo.
  • Se queres um bom cabaço, semeia-o em março.
  • Se queres ver o teu marido morto, dá-lhe sardinhas em março e couves em agosto.
  • Secura de março, ano de vinho.
  • Sol de março queima a dama no paço.
  • Sol de março, pega como pegamaço, e fere como maço.
  • Tardes de março, recolhe teu gado.
  • Temporã é a castanha que em março arreganha.
  • Temporã é a castanha que por março arrebenta.
  • Todos os meses me virás ver, menos em março que quero crescer.
  • Trovoada em março, semeia no alto e no baixo.
  • Uma escarabanada entre março e abril, vale mais que a dama no palácio, com seu carro e carril.
  • Vai-te aos cubos do moinho; teu braço a novos proveja, quando por março troveja.
  • Vai-te embora fevereirinho de vinte e oito, que deixaste os meus bezerrinhos todos oito; deixo estes, que aí vem o meu irmão março que, de oito só deixa quatro.
  • Vai-te embora fevereiro que levaste o meu cordeiro! Aí vem meu irmão março que de oito te deixa quatro.
  • Vai-te embora fevereiro que levaste o meu cordeiro! Deixa vir o meu irmão março que de oito te deixa quatro.
  • Vai-te embora irmão fevereiro que cá fica a minha ovelha com o meu cordeiro, mas lá vem o irmão março que não deixará ovelha nem farrapo, nem o pastor se for fraco.
  • Vento de março e chuva de abril, fazem o maio florir.
  • Vento de março e chuva de abril, vinho a florir.
  • Vinho de março, nem vai ao cabaço.
  • Vinho que nasce em maio, é para o gaio; se nasce em abril, vai ao funil; se nasce em março, fica no regaço.

01 March 2015

Outros nomes de Portugal

O topónimo Portugal é um dos nomes de países com menos variações em línguas estrangeiras, seja na escrita ou na pronúncia. Vejamos em algumas línguas, que se afastam mais da forma portuguesa.
Suaíli (África oriental): Ureno. Tem origem no português "o reino", abreviado de "o Reino de Portugal", ouvido dos marinheiros portugueses na região desde o tempo de Vasco da Gama.
Vietnamita: Bồ Đào Nha ou Bồ. Do chinês 葡萄牙 (Putaoya).
Kikongo (Congo, Angola): Mputulukesi. Nesta língua, Mputu é Europa.
Sango (República Centro-Africana): Pûra. Talvez a abreviatura da palavra Portugal.
Taitiano (Oceânia): Pōtītī.
Mirandês: Pertual.
Latim: Lusitania ou Portugallia.
Guarani (América do Sul): Poytuga.
Árabe: البرتغال.
Aimará (América do Sul): Purtuwal.
Bengali (Índia, Bangladesh): পর্তুগাল (Partugāla).
Checo: Portugalsko.
Grego: Πορτογαλία (Portogalía).
Fula (África ocidental): Portokeesi.
Galês: Portiwgal.
Gaélico (Irlandês): An Phortaingéil.
Manês: Yn Phortiugal.
Gaélico escocês: A' Phortagail.
Gujarati (Índia): પોર્ટુગલ (Pōrṭugala).
Coreano: 포르투갈 (Poleutugal).
Havaiano: Potugala ou Pokukala.
Arménio: Պորտուգալիա (Portugalia).
Hindi: पुर्तगाल (Purtagāla).
Zulu (sul da África): IPhothugali.
Hebraico: .לגוטרופ
Italiano: Portogallo.
Georgiano: პორტუგალია (Portugalia).
Cassúbio (Polónia): Pòrtugalskô.
Ruandês: Porutigali.
Laociano: x (Pok Tuny Kan).
Lingala (Congo): Pulutugal.
Maori: Potukara.
Nauruano: Portsiugar.
Nepalês: पोर्चुगल (Pōrcugala).
Japonês: ポルトガル (Porutogaru).
Napolitano: Purtuallo.
Normando (França): Portûnga.
Punjabi, urdu (Índia, Paquistão): ਪੁਰਤਗਾਲ , پرتگال (Puratagāla).
Cambodjano: ព័រទុយហ្គាល់ (Prtouyohkal).
Russo: Португалия (Portugaliya).
Suazí (sul da África): Iphuthukezi.
Eslovaco: Portugalsko.
Esloveno: Portugalska.
Somali: Bortuqaal.
Surinamês: Portugesokondre.
Tamil: போர்த்துகல் . (Pōrttukal).
Tailandês: ประเทศโปรตุเกส (Pratheṣ̄ Portukes̄).
Turco: Portekiz.
Ucraniano: Португалія (Portuhaliya).
Chinês: 葡萄牙 (Pútáoyá).

Em muitas das línguas não indicadas, Portugal escreve-se também Portugal ou Portugalia, ou formas aproximadas destas.

Ver também a origem do nome de Portugal.